sexta-feira, 1 de junho de 2012

Comunicação 2.0: a linha tênue entre um post e uma crise


*Por Lívia dos Santos

Já cansamos de ler e debater a importância da comunicação 2.0, ou seja, nas redes sociais, blogs e plataformas digitais. Mas será mesmo que nós, profissionais, e as marcas, aplicamos todo o nosso conhecimento no dia a dia?

Semana passada aconteceu mais um caso que, na minha opinião, é mais um exemplo de que precisamos pensar em todas as alternativas antes de uma ação de comunicação e/ou promocional e na hora de responder aos consumidores/clientes.

A Pom Pom, marca de fraldas descartáveis, promoveu um concurso cultural no Facebook chamado “Mostre ao mundo o amor pelo seu bebê”, em que qualquer pessoa poderia mandar uma foto com o seu bebê e as três fotos mais ‘curtidas’ na rede social levavam prêmios, entre eles, ganhavam 6 meses de fraldas Pom Pom.



Entre as fotos tradicionais de bebês – no caso, crianças – duas pessoas inscreveram seus animais de estimação: Léo, um gato, e Bruce, um cachorro, ambos com deficiências físicas que necessitam utilizar fraldas descartáveis 24 horas por dia/7 dias por semana. As fotos foram aprovadas pelo concurso e foram pra votação. Resultado: as mais curtidas da página.




Estava tudo bem até que a Pom Pom publicou uma nota em sua página, na noite de segunda-feira (21), comunicando que as duas fotos foram retiradas e desclassificadas, pois as fraldas da marca não são para animais, apenas para humanos. O caos foi instalado. Alguns foram a favor, porém a maioria foi contra a decisão. Essa publicação foi deletada e uma nova publicação foi postada na madrugada de terça-feira (22), ainda com a revolta dos usuários.

Assim, um grupo se formou e criou outra página no Facebook – Não compre Pom Pom – em que mostram a posição contra a decisão da empresa e divulgam a história de outros animais que precisam de fraldas, em função de suas deficiências. Também criaram a hashtag #naocomprepompom pra levar a discussão para o Twitter, mais uma rede social, e divulgar o caso.

Após tudo isso, a Pom Pom voltou a se pronunciar em sua página no Facebook, mas dessa vez, anunciando que se comoveu e resolveu doar mil fraldas para cada um dos animais.

Bom, agora que já conhecemos o caso, quero levantar alguns pontos aqui para discutirmos a partir do ponto de vista da comunicação, deixando de lado as opiniões pessoais:

- Quando se cria uma ação/campanha, temos que pensar em todas as alternativas e deixá-las claras. Embora esteja claro que uma marca de fraldas cria um concurso para bebês (crianças), nada impedia no regulamento a publicação de fotos de animais.

PAUSA NESSE MOMENTO: a sociedade mudou seus conceitos. Muitos não têm filhos, vivem sozinhos, enfim, e veem o animal como um filho, um bebê mesmo (eu faço parte desse grupo rs). Da mesma forma como um casal, hoje, não pode ser visto apenas como homem e mulher. Ou seja, temos que levar em consideração todas as possibilidades, afinal, como profissionais de comunicação não temos que estudar sociologia, filosofia, entre outras disciplinas, além de observar as tendências, as mudanças, a sociedade (nosso público), justamente para nos prepararmos e sermos completos em nossos planejamentos?

- Vamos concordar: são justamente essas respostas em concurso que são inusitadas e surpreendentes que chamam a atenção, comovem, geram repercussão e ganham. Então, eu vejo como criativas as pessoas que romperam ali a barreira e publicaram as fotos de seus “bebês”.

- Sim, no regulamento não tinha NADA banindo esse tipo de publicação – e eles admitiram no último comunicado – e mais: na última cláusula, dizem “A participação no presente concurso implica no total reconhecimento e aceitação das condições estabelecidas neste regulamento”, seja a organização, seja o participante, certo? Então, uma vez que as fotos foram aprovadas pelo concurso (como grifei acima), sinal que estavam de acordo.

- Já que as fotos estavam publicadas e recebiam GRANDE aprovação popular, mas detectaram que não foi bem exposto o fato de ser um concurso apenas para crianças, por que não já anunciar a comoção com os casos e a doação? Nesse caso, provavelmente estaria aqui contando como um case bem sucedido, quando uma empresa vê a manifestação e já faz uma ação “do bem”, social. Acredito que teria sido “aplaudida” desde o início e a repercussão totalmente positiva.

- Por que deletaram o 1º comunicado? Sinal de que não devem ter escrito de uma forma comovente, delicada e compreensiva, pois com a maioria dos votos e repercussão, já dá pra notar que é um público “passional”, “sensível” a causa. Logo, teria que ter todo um cuidado especial no comunicado. Fora que deletar postagens, ainda mais com críticas, é super #fail né?

- Por fim, esperaram toda a comoção, toda a imagem negativa que se formou para solucionar com as doações. Tá certo que foi tudo bem rápido, pois as postagens da marca e a nova posição com o anuncio da doação, foi em cerca de 24h – se comparado com casos como a Arezzo que a marca demorou pra se pronunciar –, mas, com todos os pontos acima, concordam que poderia ter sido evitada várias vezes: seja no planejamento, regulamento, aprovação das imagens, 1º anúncio deletado, 2º anúncio e, enfim, as doações? #pensenisso

Conclusão: os profissionais e as marcas, ainda, no dia a dia acabam cometendo esses pequenos erros, pensando que não podem gerar crises de imagem e reputação, mas estão errados. Uma foto, um comentário, um tweet, um concurso...qualquer ação gera reação e pode ser negativa. A lição que eu tiro é que precisamos analisar mais nossos públicos, prever melhor o resultado, comunicar de forma mais clara e transparente...ser realmente estratégico! É uma missão, mas não é impossível e somos preparados pra isso ;)

*Lívia dos Santos (@Lii_Santos) é Relações Públicas pela Universidade Metodista de São Paulo e analista de comunicação em agência de assessoria de imprensa. Já atuou em departamento de marketing e iniciou a carreira com eventos institucionais. Além de jobs e freelas com redes sociais, escreve para o #blogrelacoes, com coluna sobre grandes ideias/ações/campanha de comunicação, e também para o Blog @suaslindas, sobre assuntos ligados ao universo feminino.

6 comentários:

  1. Lívia, perfeita a sua visão em relação ao caso. Infelizmente, a marca perdeu uma oportunidade de se destacar junto às audiências da rede e de contornar a situação de maneira diferente. Vou usar esse case em minha aulas. ;-D Beijão, @carolterra.

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    1. Oi Carol!
      Consegui responder aqui rs!

      Como comentei contigo, eu sou apenas uma observadora na área digital e de crises...a minha área de atuação mesmo é assessoria, então fico feliz em ter acertado a análise e visão. MTO MTO MTO obrigada por ter passado por aqui, ler e dar esse feedback tão positivo! Tô lisonjeada e feliz de verdade em saber que contribuí com sua aula ;)

      Beijos!

      @Lii_Santos

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  2. Perfeito, ponto a ponto bem explicado. Só faltou destacar a burrada q a Pom Pom fez ao tentar se justificar usando a portaria da Anvisa de forma equivocada e amadora. Sem desmerecer estudantes, mas a gerência da crise pareceu ter sido feita por estagiários!

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    1. Oi Bella!

      Muito obrigada pelo seu comentário!! ;)

      Acho que poderiam ter comentado da questão da Anvisa, até por questão de não se comprometer legalmente, uma vez que o produto tem aval apenas para uso de crianças, mas como disse, usar isso como desculpa não foi a melhor maneira né? rs

      Beijos!

      @Lii_Santos

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  3. Só gostaria de acrescentar um detalhe: os animais foram inscritos no concurso não porque seus donos os colocam no lugar de filhos - muito embora eu não veja nada de mais nisso, eu mesma sou mãe de gatinhos aqui, rs - mas porque seus animais precisam de fraldas 24h e por toda a vida, então as tutoras viram a possibilidade de ganhar as fraldas tão necessárias. Muita gente achou que colocar fraldas nos bichinhos era afetação, não entendendo que eles tinham necessidade de usá-las. E fraldas de bebês humanos são mais baratas e acessíveis do que fraldas específicas para animais. Sei que vc sabe disso, mas não ficou muito claro na hora que vc falou do regulamento.

    No mais, excelente texto!

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  4. Oi Nina!

    Boua! É verdade! Acho que deixei essa info implícita quando mencionei o uso deles 24 horas por dia, 7 dias por semana, mas é bom deixar aqui explicado esse ponto também!

    Mtoo obrigada pela contribuição e comentário ;))

    Beijos,

    @Lii_Santos

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